Capital Social de uma empresa nada tem a ver com seu Valuation

Essa é uma pergunta que fizeram durante meu programa preferido: Shark Tank Brasil: por que o valuation da empresa é de alguns milhões se o Patrimônio Líquido (PL, no qual o Capital Social faz parte) dela é de apenas milhares de reais?

E eu curiosa que sou fui buscar esta informação, atenta aos diálogos dos tubarões. A verdade é que não existe relação entre as duas métricas. Ao menos entre empresas de tecnologia, que não dependem intensamente de terras, imóveis ou maquinário para gerar resultado.

Este é mais um ponto em comum entre as empresas de capital aberto e startups. Nas empresas de capital aberto — ou seja, que estão listadas na bolsa de valores — o valuation é o valor pelo qual estão sendo negociadas as suas ações na bolsa no momento multiplicado pelo número de ações emitidas. Se tomarmos como exemplo as empresas de maior liquidez na bolsa (aquelas cujas ações são compradas e vendidas com maior frequência), o valor da ação varia todos os dias, e o seu valuation, por consequência, também. A Petrobras, por exemplo, chegou a deixar de ser a maior empresa brasileira e, quando o valor da ação se recuperou, voltou a o topo da lista.

Isso significa que o patrimônio líquido ou o capital social dela sofreu alterações? Não. Como comentamos, uma métrica não necessariamente impacta a outra. E o mesmo ocorre com as startups.

O valor de mercado, ou valuation, de uma empresa é muito mais do que apenas o seu Patrimônio Líquido. Tanto que um dos indicadores que é usado no mercado para medir se uma ação está barata ou cara é quantas vezes está sendo negociado o valuation frente ao PL, e quanto mais perto de 1 mais “barata” está aquela ação.

Claro que no caso das startups esse número dificilmente chegará perto de 1, porque startups, na maioria das vezes não possuem prédios, veículos, máquinas caras ou itens que aumentam bastante o seu PL. São empresas mais ágeis e que utilizam tecnologia (geralmente alugando servidores e espaços de coworking) para desenvolver suas soluções. E justamente esta é uma das vantagens que faz com que elas tenham um potencial absurdo de crescimento e de roubar espaço das empresas tradicionais, afinal elas podem crescer sem grandes necessidades de investimento em estrutura (nem físicas, nem de controle). Além disso, torna possível mudanças rápidas de direção, permitindo às startups estarem sempre alinhadas à necessidade de mercado principalmente na tão falada nova economia.

Vocês lembram como a 99Taxis dominava o mercado quando apareceu o Uber? E o que ela fez? Em poucas semanas lançou o 99 Pop e mudou o nome do app de 99Taxis para 99 (pois agora não eram mais apenas táxis). Você imagina isso acontecendo numa empresa gigante? Não conheço nenhum caso que demonstre tal agilidade em uma grande corporação, e conheço dezenas de casos que mostram como elas pagaram o preço justamente por não ter esta flexibilidade. — Outro exemplo de nova economia.

E a 99 virou unicórnio (empresa com valor de mercado de mais de 1 bilhão de dólares) depois desse movimento. Ou seja, foi justamente essa flexibilidade que possibilitou que, ao invés de perder mercado e ficar obsoleta, ela pudesse adaptar o seu modelo de negócios e crescer de forma tão acelerada a ponto de se tornar o primeiro unicórnio brasileiro.

Se tivemos o nosso primeiro unicórnio apenas em 2018, a menos de três dias para o fim deste ano podemos resumir 2019 como o ano dos unicórnios brasileiros. No Brasil, a década (de 2010 a 2019) tem saldo de 11 unicórnios (empresas com valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares), sendo que o Nubank é considerado decacórnio, por valer acima de 10 bilhões de dólares. Em 2019 o Ebanx, sediado em Curitiba, se tornou o primeiro unicórnio do Sul do Brasil. O ano também foi positivo em termos de investimentos, sendo que apenas o conglomerado japonês Softbank investiu em 19 empresas na América Latina, 10 delas brasileiras, totalizando 10 bilhões de dólares.

Que 2020 venha com ainda mais unicórnios por ai! Eu? fico na torcida!